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Canta meu Louro

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Isabel Boechat e Vinicius Vaitsman lutam pelo retorno do Fala Meu Louro
“Eu tenho uma tesourinha/ que corta ouro e marfim/ Guardo também pra cortar/ as línguas que falam de mim”. Começa assim a história de um dos blocos de Carnaval mais antigos do Rio de Janeiro, o Fala Meu Louro. Os versos da marchinha Pé de anjo, composta por José Barbosa da Silva, o Sinhô, são respostas às provocações de outros sambistas da época. Primeira marchinha a ser gravada no Brasil, em 1919, teve participação da banda Fala Meu Louro, formada pelo time de estivadores do Atília Futebol Clube.
Tempos depois a banda virou bloco. Sinhô, sambista e compositor renomado, esteve sempre à frente das reuniões do Fala Meu Louro, até sua morte em 1930. O bloco só foi registrado oito anos depois do falecimento de Sinhô. Depois de 20 anos parado, o Fala Meu Louro retorna às suas atividades graças à iniciativa de familiares dos fundadores. Isabel Boechat e Vinicius Vaitsman, presidente e vice-presidente, instituíram rodas de samba quinzenais e garantem que voltam a desfilar no Carnaval de 2013.
O que de interessante vocês descobriram durante as pesquisas sobre o bloco?
Isabel – Ele foi registrado em 1938, mas já existia antes. Não temos uma data exata da fundação. Documentos mais antigos mostram o ano de 1919. Ou seja, não podemos falar que é o mais antigo, mas certamente está entre os cinco blocos mais antigos da cidade. O Atília Futebol Clube era um time formado pelos estivadores da região, fundadores do bloco.
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Sinhô, no meio, com a banda Fala Meu Louro
Como surgiu a ideia da volta do bloco?
Vinicius – Apesar de ser conhecido na região, nossa geração não é do Louro. A família da minha mulher tem forte ligação com o bloco, os tios chegaram a ser presidentes. Ela acabou me trazendo para esse mundo. A ideia é reviver o bloco, reunir nova e antiga gerações na quadra.
Isabel – Meu pai era do time do Atília. Vejo como o bloco fez parte da vida de nossos avós e pais. Nós nos apaixonamos pela história do Louro. Aqui o clima é de companheirismo. O bloco estava sem atividade desde 89, mas agora queremos ver a quadra movimentada e cheia de vida. Tem sido uma grande luta. Herdamos muitas dívidas e o espaço precisa de reformas. Estamos correndo atrás de patrocínio.
O Louro guarda parte da história do Carnaval. Como foi o trabalho de pesquisa?
Isabel - Procuramos em documentos, livros, falamos com a velha guarda do bloco. Descobrimos muitas coisas sobre o Louro. Por exemplo, no Carnaval, eles desfilavam na Avenida Rio Branco fantasiados de índios ou de meninas. Outra curiosidade é que naquela época havia muita disputa entre os blocos. O Cacique de Ramos era maior e desfilava antes do Fala Meu Louro. Quando chegava a hora do Louro desfilar, integrantes do Cacique sentavam no chão da Avenida Rio Branco e impediam a passagem do bloco. Começava a maior confusão…
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Integrantes do Atília Futebol Clube fantasiados de índios para o Carnaval
O que vocês têm feito para atrair o público aos ensaios do bloco?
Isabel – Desde que assumimos, tem roda de samba com o grupo Sambastião, quinzenalmente aos domingos. No dia 23, outro bloco da Região Portuária, o Pinto Sarado, é a atração. O clima é muito agradável, familiar. O pessoal vem, toma uma cerveja, tudo muito tranquilo.
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Roda de Samba lota quadra do Fala Meu Louro aos domingos
Quais são os planos para o futuro?
Isabel - No dia 20 de janeiro, o Louro comemora seu jubileu de brilhante, 75 anos. Estamos planejando uma festa especial. A data coincide com o Dia de São Sebastião. Decidimos celebrar uma missa na quadra. Também prestaremos homenagem aos colaboradores do bloco. Sem contar o bolo e, é claro, a roda de samba.
Vinicius - No dia 12 de janeiro, participaremos do grito de Carnaval que sai do Largo de São Francisco da Prainha. Rodaremos a região e terminaremos aqui na quadra, com a nossa bateria e a do Escravos da Mauá. Esse será nosso esquenta. Vamos cantar os sambas antigos do bloco, misturar aos novos de escolas de samba e  outras músicas mais famosas.
Texto: Mariana Aimée / Fotos: Mariana Aimée e arquivo pessoal